Wednesday, July 29, 2009

ainda sobre palestras, na segunda feira dia 3 de agosto estarei dando a aula magna da UFSC em Florianopolis e no dia 4 a aula inaugural da SOCIESC em Joinville

Monday, July 27, 2009

1800 esperanças / 1800 hopes

ontem tive a honra de fazer a palestra principal do primeiro dia do Encontro Nacional dos Estudantes de Arquitetura, ENEA. Logo de cara me vem as memórias do Enea de 89 em BH que ajudei a organizar (e enxugar a escola inundada por uma cano rompido) e de outros 3 Eneas que participei (Belém, São Paulo, Brasília). Essas estórias merecem seu próprio post no futuro, se bem que algumas são absolutamente impublicáveis.

mas o que me alegrou ontem foi ver a quantidade de alunos, a maioria dos períodos iniciais do curso, que me procuraram perguntando pos referências, sites, links que tratem da questão da sustentabilidade no ensino de projeto. Gente de todo canto do Brasil que percebe a carência de informações confiáveis sobre o tema e o despreparo de seus professores no assunto. É preciso lembrar que não é por má vontade que os professores de hoje não tratam da emergência energética e da exaustão dos recursos naturais. Não fomos treinados pra isso, não tivemos ninguém pra nos ensinar. Mas também não dá pra negar que exista certa resistência ao assunto como se fosse mais um estilo ou moda passageira.

o interessante é perceber que assim como na revolução digital dos anos 90, são os alunos que vão trazer essa nova forma de pensar pra dentro das escolas. Por isso o Enea, lócus por excelência da formação da identidade (e dos discursos) do futuro profissional da arquitetura, é tão importante como termômetro da comunidade discente.

e o Enea estava fervendo de vontade de saber mais sobre energia, água e ecologia urbana.


yesterday I had the honor of delivering the opening lecture at the ENEA, Brazilian Congress of Architecture Students. Among many memories of going to such meetings 20 years ago (some not publishable), I was very happy to see so many students from every corner of Brazil interested in sustainability issues.

asking for references, websites and links, the students were eager to get information that their instructors are unable to deliver. Not because they don’t want to (although I do see some resistance as if energy conservation were another style, another fashion) but because they (or I should say we) were not educated on such matters.


it was very interesting to see that much like the digital revolution of the 1990s, the students are the ones bringing change to architecture schools. Even more in the ENEAs, privileged locus of the formation of the identity of future professionals, thermometer of the student community.

and the ENEA was feverish about water, energy and urban ecology issues.

Monday, July 20, 2009

inhotim








a visita a Inhotim que eu já devia ter feito a muito tempo marcou uma semana em que os deuses do futebol abençoaram mais uma vez a torcida alvinegra das alterosas. Inhotim pra quem não conhece é um centro de arte em Brumadinho, a 60km de Belo Horizonte, onde o colecionador Bernardo Paz oferece aos visitantes aquela que é sem dúvida a melhor coleção de arte contemporânea do Brasil.
mas antes de falar da coleção é necessário dizer que Inhotim é antes de tudo um parque. Parte do paisagismo foi desenhado por Burle Marx nos anos 80 e sua influência é visível no restante do espaço embora as vezes se perceba um certo exagero, um viés monumental na paisagem.

dispostos neste imenso jardim estão uma dúzia de galerias onde se vê obras de artistas consagrados como Cildo Meireles e Tunga e jovens como Rivane Neuschwander e Alexandre da Cunha. A maioria das galerias tem uma arquitetura inexpressiva mas abrigam muito bem o acervo. Algumas até parecem ter sido desenhadas para uma obra em questão como True Rouge do Tunga. A notável exceção é a galeria projetada por Rodrigo Lopez para as obras de Adriana Varejão. Um cubo de concreto em balanço sobre um espelho d’água lembra automaticamente Tadao Ando tanto na textura das formas do concreto quanto pelo uso da iluminação indireta. A impactante obra de Varejão é nitidamente acentuada pela arquitetura, o que me permite perguntar se o mesmo efeito amplificador não poderia ser aplicado também sobre algumas das outras obras como a “através” de Cildo. Completando a exuberância do parque uma instalação de Helio Oiticica (magic square #5), os fuscas de Jarbas Lopes e a “inmensa” escultura em aço de Cildo Meireles se oferecem ao redor do lago.

em resumo, a melhor coleção de arte contemporânea brasileira pode ser vista por todos que se dispuserem a enfrentar a dureza da BR 381 em Contagem e Betim e os quebra-molas da estrada de Brumadinho.
vale super a pena.





60 km southwest of Belo Horizonte we find Inhotim, the Best collection of contemporary art in Brazil. Before discussing the collection I must reveal that Inhotim is a park, part of it designed by Burle Marx in the 1980s and his influence is still visible despite the monumentality that we can also see in the current landscape.

around this giant garden are the galleries, most unimpressive, that house so many amazing pieces of art, from celebrated artists such as Cildo Meireles and Tunga to younger like Rivane Neuschwander and Alexandre da Cunha. The one remarkable building is a Tadao-Ando-like cube of concrete elevated over a water pond, designed by Rodrigo Lopez to house the works of Adriana Varejão. The works of Varejão are clearly highlighted by the excellence of the architecture and I wonder if the same could not be also true for “através” by Cildo Meirelles or “true rouge” by Tunga. Completing the exhuberance of the collection the troca-troca VW Beetles by Jarbas Lopes, magic square #5 by Helio Oiticica and inmensa by Cildo Meireles are all in the garden.

in summary, the best collection of Brazilian contemporary art is open to the public in a beautiful park, just a little bumpy road away from Belo Horizonte.

absolutely worth it.

Tuesday, July 14, 2009

Carta aberta aos organizadores da Copa 2014

esta carta,da qual eu sou um dos signatários, foi publicada originalmente pelo site concursosdeoprojeto.org reproduzida aqui no parede.

O auto-intitulado “Time de Arquitetos da Copa”, grupo de arquitetos responsáveis pelos projetos dos estádios das 12 cidades que sediarão os jogos da Copa de 2014, assinou no último dia 18 de junho uma “carta aberta” [1] na qual exige “respeito aos projetos desenvolvidos para as futuras arenas” e “recomendam todo o empenho da sociedade e governantes para que os investimentos na Copa de 2014 sejam sustentáveis e tragam benefícios permanentes às cidades brasileiras”.

É de se respeitar a luta dos colegas arquitetos, que representados pelo SINAENCO – Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva –, convocam a sociedade para ao seu lado empenhar-se pelo respeito aos seus projetos. O discurso em prol da sustentabilidade e dos benefícios à sociedade está presente na carta, assim como a preocupação de evitar “o uso indevido dos recursos, especialmente o dinheiro público”. É importante ainda destacar, no documento assinado pelo “Time de Arquitetos da Copa”, a preocupação dos mesmos com a qualidade do projeto arquitetônico e com a obediência às suas soluções e especificações (de sistemas construtivos, de materiais e de equipamentos) pelos empreendedores.

É louvável toda iniciativa que tenha como resultado (e propósito) a qualidade da arquitetura pública, mas algumas dúvidas em relação ao “Projeto Copa 2014” inspiram certa cautela em relação à convocatória pública pelo respeito aos projetos e aos seus autores. Se por um lado deve-se reconhecer a obrigação de defender uma causa aparentemente tão justa, por outro não se pode ignorar o desconforto que decorre do desconhecimento coletivo – por falta de transparência – do processo em torno das contratações de projetos e serviços para a Copa 2014, bem como das suspeições resultantes de relatórios recentes publicados pelo Tribunal de Contas da União[2]. Portanto, para evitar injustiças e conclusões precipitadas, antes de decidir por assinar ou refutar uma carta repleta de boas intenções, “pela qualidade da obra pública e do projeto arquitetônico”, solicita-se o esclarecimento de algumas questões:

1. Qual foi o processo de escolha dos projetos dos estádios e de convocação dos membros do “Time de Arquitetos da Copa” em cada caso? Foi realizado algum concurso? Algum escritório foi contratado por notória especialização, ou seja, sem concurso ou licitação? Houve licitações por técnica e preço? Afinal, têm sido publicadas notícias preocupantes sobre contratações sem licitação de projetos e serviços para a Copa 2014[3]. Enfim, em se tratando de empreendimentos que envolvem vultosos recursos públicos, é fundamental saber em quais das modalidades previstas na legislação se enquadraram as contratações de cada um dos projetos.

2. Quais foram os critérios utilizados para as escolhas dos projetos arquitetônicos? Segundo a “carta aberta”, “os projetos para os empreendimentos esportivos e de infraestrutura geral para a Copa 2014 devem ser escolhidos por sua concepção inovadora, pela percepção da essência e da cultura local e pela melhor técnica, nunca pelo menor preço”. Quais foram os procedimentos adotados para julgamento e avaliação da referida inovação e da qualidade que se espera de uma arquitetura pública? Houve comissões julgadoras? Se houve, quais foram os seus membros?

3. Qual o montante de recursos públicos envolvidos nos projetos? Notícias publicadas no Portal Copa2014[4] anunciam que as projeções de gastos para a construção e reforma dos estádios do Mundial já subiram mais de 300%, ultrapassando R$ 10 bilhões. Ainda segundo a mesma matéria, um dos fatores que teria influenciado no aumento do orçamento teria sido o início do detalhamento dos projetos, fase em que os valores se aproximam do custo real. Essa notícia contradiz a declaração do “Time de Arquitetos” e do SINAENCO ao desejarem que “o legado da Copa de 2014 no Brasil seja – realmente – o alicerce de um país mais desenvolvido, com melhor infraestrutura, empregos, distribuição de renda e justiça social, algo que não se consegue sem um planejamento de longo prazo, estudos de viabilidade econômico-financeira e ambiental”.


Há muito tempo que se buscam, sem sucesso, informações sobre os processos de contratação dos projetos para a Copa 2014. Talvez com a ajuda do “Time de Arquitetos da Copa” e do SINAENCO, seja finalmente possível obter uma resposta clara e definitiva a tais dúvidas. Afinal, para que se possa ter o apoio da sociedade à causa da “qualidade da arquitetura pública”, mencionada na “carta aberta”, é fundamental antes de tudo a observância da transparência pública, da probidade administrativa, da isonomia e da impessoalidade dos contratos públicos. Sugere-se, portanto, que seja demonstrado à sociedade que os processos de contratação dos projetos para a Copa 2014 seguiram todos esses princípios, como seria de se esperar. Acredita-se que assim terão o apoio e o respeito que demandam.


Assinam esta carta:

Álvaro Puntoni, Carlos Eduardo Comas, Carlos Henrique Magalhães, Circe Monteiro, Danilo Matoso Macedo, Edson Mahfuz, Eduardo Pierrotti Rossetti, Elcio Gomes, Fabiano Sobreira, Fernando Luiz Lara, José Eduardo Ferolla, Humberto Hermeto, Izabel Amaral, Leandro Augusto Campos, Natália Miranda Vieira, Pedro Morais, Pedro Paes Lira.



[1] Arquitetos exigem respeito aos projetos para 2014: Time de Arquitetos da Copa divulga carta em defesa do planejamento. Publicado no Portal Copa 2014, em 22/06/2009.

[2] TCU suspende concorrência de serviços para a Copa 2014: Tribunal avaliou que a licitação poderia trazer prejuízos aos cofres públicos. Publicado no Portal Copa 2014, em 04/05/2009.

[3] Pela Copa-2014, cidades iniciam festival de gastos sem licitação. Publicado na Folha OnLine, em 18/01/2009; TCU veta licitação para escolha da empresa organizadora da Copa: altos salários de consultores e outros custos exorbitantes seriam os motivos. Publicado no Portal Copa 2014, em 14/05/2009.

[4] Estádios da Copa podem ficar 300% mais caros: Custo das arenas da Copa do Mundo já ultrapassa os R$ 10 bilhões. Publicado no Portal Copa 2014, em 01/07/2009.

Monday, July 6, 2009

quem sabe faz ou ensina? knowledge to do or to teach?

na semana passada o recado de Burle Marx a Niemeyer suscitou um comentário que me deixou pensando por dias a fio. O comentário foi a frase antiga de “quem faz sabe quem não faz ensina” que me fez refletir sobre várias questões arraigadas no Brasil do século XX e que ainda insistem.

a primeira remete a idéia de que aos que fazem vale tudo. Num país que precisava crescer a qualquer custo fazer era mais importante que qualquer outra coisa. Não é mais. Em tempos de crise ecológica global e economia da informação o pensar e o refletir se tornam tão ou mais importante que o fazer.

a segunda remete ao descaso para com o ensino, a idéia de que quem ensina o faz por não saber fazer. Valorizar o professor é talvez a ação mais urgente para a melhoria do ensino em todos os níveis. Tratar a docência como uma opção para os que não conseguem algo melhor implica empurrar gerações inteiras para longe do estudo e do capital intelectual como objetivo de vida. Isso nos tempos atuais é de uma burrice incorrigível.

a terceira remete a situação da arquitetura em especial. Sempre defendi que as escolas de arquitetura precisam de um equilíbrio entre projetistas e doutores. Não se faz uma boa escola apenas com PhDs. Mas tanto o ensino quanto a prática da arquitetura não se aprimoram sem a crítica. Cabe retomar um excelente texto de Paul Valery chamado “Eupalinos ou O Arquiteto” para entender porque em arquitetura o fazer e o pensar são indispensáveis.



last week the message from Burle Marx to Niemeyer brought a comment that made me think a lot. The old Brazilian say that “the ones who knows make something, the ones who don’t teach something” seems to be rooted in the last century but still surviving.

the first is the idea that making is above everything else. In a country that needed to grow at any cost, doing was indeed very important. Not anymore. In times of climate crisis and knowledge economy to think is as important (or more) than to make.

the second is the idea that people choose to teach because they are not very good on making something. To think of teaching as a fall back career implies pushing an entire generation away from knowledge as a value. This to me seems plain stupid nowadays.

the third relates to architecture. I have always said that architecture schools need a balance between designers and doctors. We cannot have a good school with phds only. But teaching (and practice) cannot improve without a critical approach. As Paul Valery wrote in Eupalinos, in architecture, thinking and doing are both essential.